segunda-feira, 29 de novembro de 2010

mundo em alguém

i carry your heart with me (i carry it in
my heart) i am never without it (anywhere
i go you go, my dear; and whatever is done
by only me is your doing, my darling)
i fear
no fate (for you are my fate, my sweet) i want
no world (for beautiful you are my world, my true)
and it's you are whatever a moon has always meant
and whatever a sun will always sing is you

here is the deepest secret nobody knows
(here is the root of the root and the bud of the bud
and the sky of the sky of a tree called life; which grows
higher than the soul can hope or mind can hide)
and this is the wonder that's keeping the stars apart

i carry your heart (i carry it in my heart)


e.e.cummings


inteiramente retirado do Vão Combate, de Patrícia Reis, deste local.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

na sequência do post anterior

Mais que me incomodar, assusta-me e preocupa-me as pessoas que escrevem “fizes-te”, “disses-te”, “mandas-te”(*) e coisas afins. Especialmente quando vejo nos seus currículos que têm licenciaturas, mestrados, pós graduações, mba´s ou outras formações igualmente “superiores”. Há sempre em mim uma dúvida entre bater-lhes ou oferecer-lhes gramáticas da língua portuguesa (ainda me lembro de ser criança e ser obrigatório todos termos uma para a escola; hoje em dia duvido que algum desses licenciados tenha, muito menos que saiba consultar uma). Até agora tenho resistido à tentação de qualquer uma delas. Até porque, tendencialmente, a vontade de lhes bater é mais forte…

(só para esclarecer, os exemplos dados referem-se, respectivamente, a “fizeste”, “disseste” e “mandaste”)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

educação ou falta dela

Um destes dias, ao fazer zapping, deparei-me com um programa desses de decoração ou remodelação ou coisa parecida. Normalmente não tenho paciência para ver esse tipo de programa, por um lado porque acho mesmo não ter qualquer interesse mas sobretudo porque não aguento o artificialismo da coisa. Adiante.

Desta vez, porém, no momento em que mudei de canal pareceu-me ouvir algo que não me parecia possível ser dito. Voltei a colocar nesse canal e fiz o esforço de ficar a ver. E, de facto, não me tinha enganado: voltei a ouvir a mesma coisa. Mais ainda, repetiu-se várias vezes e com palavras diferentes.

Passo a explicar: o tal programa de decoração, que passava num canal predominantemente nortenho (mas acredito que não foi esse o motivo para o que se passou), era apresentado por uma pseudo benzoca, uma tia wanna be, a dar ares de educada, culta, detentora de bom gosto inatingível e apreciadora de artes e afins. Falava com um sotaque que é, na minha opinião, o pior sotaque de todos que se podem ter: não admitindo a acentuação própria da sua região, também não conseguia falar sem qualquer sotaque; pelo contrário, fazia algo muito característico de alguns locais do Porto que é tentar disfarçar a cantiga própria da cidade, adulterando e conferindo entoações (letras até, nalguns casos) às palavras. Só para dar dois exemplos, na boca destas pessoas, palavras como “queijo” ou “semana” passam rapidamente a «cajo» e «semêna». Enfim…. Ora esta senhora, com este sotaque odioso (há muito quem lhe chame “fozeiro”) e com aquele ar de quem sabe muito, falando com o designer do espaço que apresentavam, não se cansou de atirar pérolas como “fizestes”, “usastes”, “pusestes”, “utilizastes” e “dissestes”, isto entre outras que agora não recordo e, acredito, outras que posso não ter ouvido. Sim, porque eu apenas assisti aos últimos cinco minutos do programa. E, só para que fique esclarecido, a senhora não tratava o designer por “vós” mas sim por um familiar “tu”.

Não posso deixar de emitir duas pequenas observações: uma para a senhora e outra para o canal. Minha senhora, se quer ser realmente educada trate de conhecer bem o seu idioma em vez de disfarçar sotaques ou citar “trabalhos” de arquitectos. Senhores directores de canais, garantam que quem apresenta os vossos programas consegue comunicar sem dificuldade mas de forma correcta.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

mais um adeus

Foi em 2004 que nos conhecemos, mas a empatia sentida e a amizade que se gerou foi tão pura, tão honesta e tão forte que faz este tempo parecer décadas. Passámos muitos bons momentos juntos, também estivemos lado a lado em momentos menos bons, tantos meus como teus. Sempre tiveste, com toda a gente que recebias como amigos, uma palavra de apoio mas não de benevolência gratuita. Sempre com capacidade de análise e crítica, revelavas os pontos em que cada um estava certo e errado. Sempre tinhas um abraço e um sorriso assim como uma palavra. Nem que fosse um insulto, para nos chamar à realidade ou apenas para desanuviar o ambiente.

Tivemos grandes festas, jantares inesquecíveis, noites infindáveis, conversas excelentes. Aprendi contigo e espero também ter contribuído para o teu enriquecimento pessoal. O teu prazer de viver e de conviver era único e, em verdade, contagiante.

Ontem foi o dia mais negro. Não conseguiste fintar a morte uma segunda vez. Quando a encontrar vou cuspir-lhe na cara, por ti! Levou-te, mas deste-lhe luta. Teve de voltar uma segunda vez, depois de a teres mandado embora da primeira com o rabo entre as pernas.

É impossível descrever o que se sente. Mas tu sabes o que pensa cada um que está a viver a tua perda.

Uma coisa é certa: seja lá onde estiveres agora, de acordo com aquilo em que (não) acreditavas, estás rodeado de amigos, daqueles que já não vias há mais ou menos tempo, por impossibilidade física, a conversar, em animadas tertúlias e em acesas discussões ou à volta da mesa a apreciar uma boa comida e uma ainda melhor bebida, tal como fazias enquanto cá estiveste. E podes ler os teus livros favoritos, ouvir a tua boa música, filosofar e o que mais te apeteça e te dê prazer.

Foi um privilégio conhecer-te e poder chamar-nos de amigos! Para ti, meu bom amigo C., um abraço apertado e um grande beijo. Até à próxima!